"Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas." (Bernardo Soares)
publicado por Departamento de Língua Portuguesa | Quarta-feira, 12 Março , 2014, 19:33

 

UMA AVENTURA NA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

 

Era um dia quente de verão. O sol escaldante queimava os braços e pernas destapados dos muitos visitantes da cidade de Lisboa. Carlos, Marta e Gonçalo não eram exceção. O inseparável trio de amigos, originário do Porto, encontrava-se na capital para participar numa manifestação “júnior” contra as medidas de austeridade implementadas pelo governo. Os três petizes percebiam bastante de política, e defendiam a saída da Troika do país e a demissão do primeiro-ministro, Benjamim Guimarães.

À hora combinada, Gonçalo, Marta e Carlos encontraram-se com mais de uma dezena de outros manifestantes de palmo e meio, com cartazes, bandeiras e vozes bem afinadas. Entretanto, decorria na Assembleia da República o já famoso debate quinzenal, que os jovens esperavam interromper.

Tudo estava preparado. Cartazes, autocolantes, altifalantes… Tudo estava no seu lugar, ao cuidado de uma determinada criança. Então, os miúdos, ágeis e destemidos, romperam pelo enorme portão que dava acesso ao local da manifestação. Após portas, portinhas e portões, os meninos e meninas finalmente chegaram ao destino: uma sala ampla, com muitas pessoas com diferentes opiniões políticas.

Ao início, os governantes não deram pela presença das crianças. Estavam envoltos numa decisão importante: a votação de aprovação da coadoção parental por casais do mesmo sexo.

Foi então que, subitamente, um menino de 7 anos, presente no grupo de manifestantes, começou a choramingar. É que o rapaz era órfão e estava num orfanato. Conhecera há pouco tempo um casal homossexual um tanto simpático, que estava prestes a adotá-lo. E o rapaz, atento ao que se passava naquela emblemática sala, ouviu o que mais temia: a não aprovação da coadoção, o que significava que não iria ter uma família, uma família a sério. Em vez disso, continuaria no orfanato horrendo, com teias de aranha nos cantos das paredes e quartos a cair de velhos.

Ao ouvir a voz esganiçada, o primeiro-ministro, Benjamim Guimarães, que fora interrompido, não hesitou. Seja lá de onde foi, sacou de uma pistola 9 mm com silenciador e apontou para a criança inconsolável, com um sorriso trocista. Os restantes governantes, assustados, recuaram e tentaram fugir da sala, mas não conseguiram. As crianças, verdadeiramente aterrorizadas, gritavam, chamando pelas mães!

Gonçalo, Marta e Carlos desapareceram subitamente. Ninguém dera pela falta deles… Até que, num ato heroico, Gonçalo saltou por detrás do primeiro-ministro e atirou-o ao chão, recolhendo a arma. O rapaz de 11 anos não conseguia acreditar! O primeiro-ministro do seu país era uma fraude, e ele tinha-o impedido de juntar um homicídio ao seu currículo!

As crianças, mal se viram salvas, correram para fora do edifício, enquanto a polícia detinha Benjamim.

Na manhã seguinte, o nome de Gonçalo fazia correr tinta em jornais de todo o mundo. Nesse mesmo dia, Gonçalo iria ao Palácio de Belém, para ser condecorado pelo Presidente da República, Mário Andrade, e lhe ser entregue uma proposta para ser enterrado, quando morresse, no Panteão Nacional.

Bem, era um dia que Gonçalo não ia esquecer. Nem ele, nem Benjamim…

 

Gonçalo Moreira, 6.º B

(Texto enviado a concurso)


Blogue do Departamento de Língua Portuguesa do Colégio de Nossa Senhora do Rosário
Pesquisa Literária

Conto Colégio

Textos de Alunos

pesquisar neste blogue